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JOHN WIMBER: HISTÓRIA, TEOLOGIA E INFLUÊNCIA DO FUNDADOR DO MOVIMENTO VINEYARD

Introdução
 

John Wimber (1934-1997) foi uma figura proeminente no Cristianismo do final do século XX, conhecido por liderar o Movimento Vineyard. Sua abordagem no ministério e no evangelismo buscou um retorno às raízes apostólicas da igreja, unindo a proclamação da mensagem cristã com a demonstração do poder do Espírito Santo. Este artigo explorará a jornada de Wimber, seus fundamentos teológicos centrais – especialmente a doutrina do Reino de Deus – suas práticas ministeriais distintivas e o impacto duradouro que ele teve tanto no Movimento Vineyard quanto no Evangelicalismo mais amplo.
 

1. História: da música ao ministério
 

A história de John Wimber é notável por sua origem fora de um contexto religioso tradicional. Nascido em 1934, cresceu inteiramente fora da fé, assim como sua esposa, Carol. Antes de sua conversão, Wimber teve uma carreira de sucesso como músico e produtor, chegando a se envolver na fundação e produção do popular grupo The Righteous Brothers.
 

Sua conversão ocorreu aos 29 anos, em 1963, em uma igreja Quaker em Yorba Linda, Califórnia, após um período de crise pessoal e busca por significado. Ele se descreveu como um "fumante inveterado, bebedor de cerveja, abusador de drogas" antes de vir para Cristo. Sua experiência de vida anterior, fora do ambiente eclesiástico, deu-lhe uma capacidade única de entender a mentalidade de pessoas não acostumadas com a igreja, algo que ainda é evidente nas igrejas Vineyard hoje.
 

Após sua conversão, Wimber tomou a decisão radical de deixar sua carreira musical de sucesso para seguir a Cristo, abraçando a ideia de ser "tolo por Cristo" e "um trocado no bolso de Deus", disponível para ser usado da maneira que Deus quisesse. Nesse primeiro momento como cristão, ele demonstrou um dom notável para o evangelismo pessoal, levando centenas de pessoas a Cristo.
 

Em 1970, Wimber juntou-se à equipe ministerial da igreja Quaker em Yorba Linda. Durante esse período, ele liderou múltiplos estudos bíblicos, envolvendo centenas de pessoas. No entanto, ele sentiu insatisfação e uma secura espiritual. Essa busca por algo mais o levou a se matricular no curso de Doutorado em Ministério e Crescimento de Igreja de C. Peter Wagner no Fuller Theological Seminary em 1974. Essa exposição ao trabalho de Wagner e outros teólogos, bem como a missionários, foi formativa para ele.
 

Uma virada significativa ocorreu quando ele e Carol começaram a experimentar o Espírito Santo de maneiras frequentemente associadas ao Cristianismo Pentecostal ou Carismático. Eles vivenciaram uma renovação espiritual que se tornou um ponto crucial em sua vida e ministério.
 

Em 1977, John iniciou uma igreja afiliada à Calvary Chapel em Yorba Linda. No entanto, sua crescente ênfase nos dons do Espírito Santo e no ministério de cura gerou tensão, eventualmente levando à separação da Calvary Chapel em 1982. Essa igreja se tornou a Vineyard Christian Fellowship de Anaheim, rapidamente se tornando a igreja principal e o centro do nascente Movimento Vineyard. John Wimber assumiu a liderança das igrejas Vineyard no início dos anos 80, supervisionando a plantação de centenas de igrejas nos Estados Unidos e globalmente nas décadas seguintes.
 

Wimber era conhecido por sua autenticidade e falta de formalidade. O que você via de John em público era exatamente o que você encontrava em particular. Ele valorizava a unidade da igreja, considerando irmãos em Cristo todos que honravam o nome de Jesus, independentemente de sua denominação. Ele também desenvolveu um forte compromisso com o ministério aos pobres, algo que se tornou um princípio fundamental para o Movimento Vineyard.
 

Nos últimos anos de sua vida, Wimber enfrentou crescentes problemas de saúde. Ele sofreu seu primeiro ataque cardíaco em 1986 e foi diagnosticado com um tumor inoperável em 1993. Apesar de sua saúde debilitada, continuou a liderar o movimento Vineyard até sua morte em 17 de novembro de 1997, aos 63 anos.
 

2. Teologia: o Reino de Deus e o poder do Espírito
 

O cerne da teologia de John Wimber e a base para seu modelo de ministério e evangelismo, foi a doutrina do Reino de Deus. Wimber foi profundamente influenciado pela teologia do Reino de George Eldon Ladd, particularmente o conceito de que o Reino já veio com a vinda de Jesus, mas ainda não chegou em sua plenitude. Essa tensão do “já e ainda não” do Reino é fundamental para entender sua visão sobre sinais, maravilhas e cura.
 

Segundo Wimber, o Reino de Deus é o "reinado ou governo dinâmico de Deus". Não deve ser confundido com a igreja; enquanto a igreja é uma sociedade de homens e mulheres, o Reino é o governo de Deus. A igreja é o instrumento do Reino e é chamada a testemunhar o Reino, mas não tem autoridade para construí-lo; somente Deus tem essa autoridade.
 

Jesus anunciou a proximidade do Reino e demonstrou sua presença por meio de ações que evidenciavam a autoridade divina sobre o pecado, as enfermidades e os demônios. Suas ações como Rei autenticaram Sua mensagem do Reino. Para Wimber, os sinais e maravilhas não eram apenas ornamentos do ministério de Jesus, mas eram centrais e manifestavam a chegada do Reino.
 

A missão da igreja, como o Corpo de Cristo, é continuar a obra de Jesus, o que inclui tanto a proclamação da Palavra quanto a prática de sinais e maravilhas. A Grande Comissão (Mateus 28:18-20) não é apenas sobre ensinar, mas também sobre fazer o que Jesus fez, operando na autoridade delegada por Ele. Essa dimensão sobrenatural do ministério não se restringe aos apóstolos, mas pertence à vida normal da igreja.
 

A cura, em particular, era vista por Wimber como uma das marcas distintivas do ministério de Jesus e uma expressão concreta do Reino de Deus invadindo o presente. Curas, libertações e milagres são sinais do futuro Reino consumado que irrompem no presente; eles não são completos, mas são reais. Essa perspectiva teológica ajuda a explicar tanto por que milagres e curas acontecem ("já") quanto por que nem todos são curados e ainda há sofrimento e morte ("ainda não").
 

Wimber fazia uma distinção entre poder (capacidade de realizar) e autoridade (o direito de exercer esse poder). Os cristãos operam no mundo espiritual através da autoridade delegada por Jesus Cristo, como um policial dirige o trânsito não pela força, mas pela autoridade que lhe foi conferida. Essa autoridade é dada aos discípulos na Grande Comissão para curar e expulsar demônios, demonstrando o Reino de Deus.
 

Ele ensinava que todos os cristãos podem orar por cura. O ministério de cura é parte da vida normal da igreja e as orações devem ser feitas com fé, simplicidade e dependência do Espírito Santo. A fé, nesse contexto, não é um esforço para manipular Deus, mas uma resposta obediente à Sua direção; os resultados pertencem a Deus.
 

Em essência, a teologia de Wimber centrava-se na crença de que o mesmo Jesus que curava e demonstrava o Reino no primeiro século continua a fazê-lo hoje através de Sua Igreja, como um sinal visível da presença e do avanço do Reino de Deus.
 

3. Práticas ministeriais: demonstrando o Reino
 

As convicções teológicas de John Wimber moldaram profundamente suas práticas ministeriais, levando a abordagens que se tornaram características do Movimento Vineyard. Duas áreas principais se destacam: o Evangelismo de Poder e o Ministério de Cura, ambos intrinsecamente ligados à atuação do Espírito Santo e à demonstração do Reino de Deus.
 

O Evangelismo de Poder não é meramente uma estratégia, mas uma filosofia que une a proclamação racional do Evangelho com a demonstração sobrenatural do poder de Deus através de sinais e maravilhas. Wimber acreditava que o evangelismo bíblico, refletindo o padrão de Jesus e dos apóstolos, sempre associava a palavra com o poder. Isso contrasta com modelos de evangelismo que dependem apenas da persuasão lógica ou de apresentações pré-programadas do Evangelho. O Evangelismo de Poder busca ir além da racionalidade, introduzindo o aspecto sobrenatural, a presença manifesta de Deus. As demonstrações do poder de Deus não substituem a proclamação, mas a autenticam e a tornam convincente para os não cristãos.
 

Momentos de "encontros de poder", onde as pessoas são impactadas por manifestações do Espírito durante o evangelismo, não eram vistos como exceções, mas como ilustrações do que deveria ser a norma. Esses encontros, muitas vezes arranjados por Deus como "encontros divinos", podem abrir instantaneamente pessoas resistentes ao Evangelho, especialmente quando uma necessidade significativa é atendida.
 

Wimber enfatizava que o ministério de cura não era reservado a “supercrentes”, mas que todos os cristãos podem orar pelos enfermos. Ele encorajava uma dependência simples e total do Espírito Santo, expressa frequentemente na oração "Vem, Espírito Santo". Embora não fosse uma fórmula mágica, a oração devia ser feita com fé e humildade.
 

Wimber desenvolveu um modelo prático para a oração por cura, conhecido como os Cinco Passos da Ministração: 1) Entrevista (descobrir o que está acontecendo), 2) Diagnóstico (ouvir o Espírito e discernir a causa), 3) Oração (ministrar com fé e humildade), 4) Avaliação (verificar o que mudou e ajustar a oração), e 5) Orientações (oferecer acompanhamento). Ele reconhecia obstáculos à cura, como incredulidade, pecado não confessado ou falta de perdão, mas advertia contra a culpabilização da pessoa não curada, enfatizando que o fracasso deveria levar à oração e não à condenação. Ele ensinava um realismo pastoral, encorajando a orar sempre por cura ("Se você não orar, nunca verá milagres"), mas aceitando que os resultados pertencem a Deus.
 

Além da cura física, Wimber também ensinava sobre cura interior e libertação de opressões espirituais, reconhecendo que muitas enfermidades podem ter raízes emocionais ou espirituais. Ele promovia um ministério integral que incluía a cura do corpo, da alma e das relações, envolvendo confissão, perdão, restauração e reconciliação.
 

Central para as práticas de Wimber era a ênfase no Ministério do Espírito Santo e na capacitação dos crentes comuns. Uma de suas frases mais famosas era "Todo mundo pode participar" (Everyone gets to play). Ele desaprovava a profissionalização excessiva do ministério e queria que pessoas comuns se sentissem equipadas para participar na obra do Reino. Ele treinava membros da igreja para operar nos dons espirituais com equilíbrio e sabedoria. Sua classe no Fuller Seminary, "MC510: Sinais e Maravilhas e Crescimento de Igreja", se tornou um marco e serviu como base para seus livros mais conhecidos, como "Evangelismo de Poder" e "Poder para Curar". O objetivo dessas classes e ensinamentos era que os participantes se tornassem praticantes da palavra, não apenas ouvintes, "fazendo as coisas como estavam no livro".
 

As igrejas Vineyard, sob sua liderança, também se tornaram conhecidas por seu estilo de adoração íntima e contemporânea, utilizando música no estilo rock-n-roll da época, o que era visto como revolucionário no início dos anos 80. A adoração era caracterizada por uma sensação de intimidade e entrega profunda, permitindo que os adoradores sentissem a presença de Deus fisicamente. Além disso, as igrejas Vineyard promoviam comunidades acolhedoras e informais, aonde as pessoas podiam vir como eram, evitando a linguagem religiosa interna.
 

Em suma, as práticas de Wimber eram caracterizadas por uma dependência radical do Espírito Santo, um foco na capacitação dos crentes comuns e uma crença de que a demonstração do poder de Deus era uma parte integral e necessária do ministério cristão, especialmente no evangelismo e na cura.
 

4. Influência e legado
 

O legado mais significativo e duradouro de John Wimber é, sem dúvida, o Movimento Vineyard. O que começou como um grupo pequeno de pessoas em Yorba Linda cresceu para se tornar um movimento global, com milhares de igrejas e milhões de pessoas impactadas por sua abordagem do Cristianismo. A  Vineyard continua a ser reconhecida por sua ênfase na adoração íntima, comunidade acolhedora e ministério capacitado pelo Espírito Santo.
 

No entanto, a influência de Wimber se estendeu muito além dos limites da Vineyard. Ele é reconhecido pelo pioneirismo em uma nova abertura ao sobrenatural entre os evangélicos tradicionais nos Estados Unidos e internacionalmente. Antes de Wimber, a operação dos dons espirituais e os milagres eram frequentemente vistos como algo restrito aos meios Pentecostais e Carismáticos. Wimber ajudou a trazer essas práticas para um público mais amplo, desafiando paradigmas racionalistas ocidentais que limitavam a atuação sobrenatural de Deus.
 

Seu ensinamento e demonstração de que sinais e maravilhas eram para os dias atuais teve um impacto profundo na renovação espiritual da igreja nos séculos XX e XXI. Ele contribuiu para uma mudança na compreensão do evangelismo, promovendo a ideia de que a demonstração do poder de Deus é um componente vital da apresentação do Evangelho, e não apenas a entrega de conteúdo racional.
 

A popularização da teologia do Reino de Deus de George Eldon Ladd, aplicada de forma prática ao ministério de cura e evangelismo, também é uma contribuição teológica significativa de Wimber. Ele tornou a tensão do "já e ainda não" acessível e relevante para a prática diária da igreja.
 

A forte ênfase de Wimber em capacitar os crentes comuns para o ministério ("todo mundo pode participar") desafiou a profissionalização excessiva do ministério e capacitou inúmeras pessoas a participar ativamente na obra de Deus. Essa abordagem teve um impacto significativo no modelo de liderança e ministério dentro da Vineyard e influenciou outras denominações e movimentos.
 

Seu compromisso com os pobres e marginalizados como um foco central para o ministério também moldou a filosofia da Vineyard e lembrou a igreja de que a justiça social é parte integrante de sua missão.
 

Embora tenha enfrentado críticas e desafios ao longo de sua carreira, a disposição de Wimber em experimentar coisas novas, mesmo que às vezes parecesse  gerar uma certa "bagunça", modelou uma abertura à direção de Deus e a importância de arriscar na fé.
 

Milhares de líderes cristãos em todo o mundo consideram John Wimber uma influência significativa em suas vidas e ministérios. Seu legado perdura não apenas nas estruturas do Movimento Vineyard, mas na contínua disposição de partes do evangelicalismo em abraçar o ministério do Espírito Santo, o Reino de Deus e a capacitação de crentes comuns para colocar  "mãos-à-obra" como Jesus fez.
 

Conclusão
 

John Wimber foi um catalisador para uma renovação espiritual que buscou reintegrar a palavra e o poder no ministério cristão. Sua vida, marcada por uma jornada de conversão dramática e uma profunda dependência com Deus, exemplificou a graça que ele tanto ensinava. A base de sua teologia foi o Reino de Deus, entendido como a atuação presente do governo de Deus que irrompe no mundo através da Igreja.
 

Suas práticas ministeriais, notadamente o Evangelismo de Poder e o Ministério de Cura, foram caracterizadas por uma forte ênfase na atuação do Espírito Santo e na capacitação de cada crente para participar da obra de Deus. O modelo de Wimber desafiou as abordagens meramente racionais ou programáticas, insistindo que a demonstração do poder de Deus é essencial para autenticar o Evangelho e confrontar o mundo com a realidade do Reino.
 

Através do Movimento Vineyard e de sua influência mais ampla no Evangelicalismo, John Wimber deixou um legado duradouro. Ele ajudou a abrir portas para uma maior receptividade ao sobrenatural, popularizou a teologia do Reino de Deus em contextos práticos e capacitou crentes comuns a viverem e ministrarem com autoridade e compaixão. Seu chamado para os crentes viverem como "embaixadores do Reino – cheios do Espírito, proclamando o Evangelho com clareza e demonstrando com poder" – continua a inspirar aqueles que buscam revelar o Reino de Deus ao mundo.
 

Wimber resumiu sua abordagem com uma simplicidade notável: "Eu oro por cura porque Jesus mandou, não porque entendo tudo. Meu trabalho é obedecer; os resultados pertencem a Deus". Essa combinação de obediência ousada à comissão de Jesus e humildade em relação aos resultados continua sendo uma marca distintiva de seu legado e um desafio para a igreja contemporânea.
 

Fontes:

- Power Evangelism, John Wimber e Kevin Springer.

- Healing Syllabus, Vineyard Ministries International.

- Planting & Growing Churches, John Wimber

- Signs and Wonders and Church Growth, John Wimber 

- Kingdom Evangelism by John Wimber, Vineyard Ministries International


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